Convidamos Emanuel Vianna para participar desta edição da revista. Emanuel é gerente sênior de Data Science, um departamento da SEEK AIPS Americas focado em soluções disruptivas de Inteligência Artificial aplicadas ao mercado de empregos.

Depararmo-nos com esse campo da internet nos trouxe a curiosidade em saber sobre o funcionamento da inteligência artificial e seus efeitos nos laços sociais. A partir das interessantes informações coletadas, achamos que o melhor formato para transmiti-las seria nos apropriando de um termo da informática: inputs! Expressão de língua inglesa que significa entrada, temos aí a “reunião de dados inseridos e que, processados, se transformam em informações de saída (output)”[1].

Segue, então, nosso estímulo para entrarem e curtirem esta leitura.

 

ALGORITMOS E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Emanuel Vianna*

 

O que é algoritmo?

  • Primeiramente, é importante explicar melhor o que é algoritmo e inteligência artificial para desmistificar um pouco esses conceitos e ajudar a entender melhor quais são suas possibilidades de aplicação.
  • Algoritmo é um processo que recebe uma entrada, realiza um conjunto de passos para atingir um objetivo.
  • Parece complicado? Vamos simplificar! Veja alguns exemplos de algoritmos presentes no nosso dia a dia: seguir uma receita culinária, aprender a trocar um pneu, montar uma mesa, pegar um ônibus. Até a nossa rotina diária para nos deslocar ao trabalho é um algoritmo.
  • Como assim? Pense na receita culinária, por exemplo. Ela precisa de uma entrada (“os ingredientes”), realiza o passo a passo da receita (“corte as carnes”, “cozinhe o feijão”, “tempere a gosto”) e atinge um resultado (uma “feijoada”).
  • Operação semelhante acontece no desenvolvimento de produtos digitais (Google, Facebook, Instagram, Spotify) e em uma infinidade de outros campos.
  • Note que, em um algoritmo, nós sabemos de antemão todos os passos necessários para atingir um resultado. Acontece que, para várias tarefas, nós não sabemos de antemão todos os passos necessários.

    • Vai chover amanhã?
    • Qual roupa devo usar?
    • Devo comprar essa ação?
    • Qual a melhor vaga de emprego para mim?
    • A qual filme devo assistir?
  • O que fazer nesses casos? Os algoritmos de inteligência artificial surgiram para preencher essa lacuna. Uma das técnicas utilizadas são os algoritmos de aprendizado de máquina (machine learning) que têm uma abordagem muito interessante. Ao invés de fornecermos a entrada e o passo a passo para produzir uma saída, fornecemos a entrada e a saída, e o algoritmo de inteligência artificial “aprende” o passo a passo para atingir o resultado desejado.
  • Note que, em quaisquer desses cenários citados, há um requisito fundamental: a necessidade de conhecimento prévio acerca do objetivo a ser alcançado.
  • Por exemplo, para a tarefa “Vai chover amanhã?”, você precisará de dados históricos (temperatura, pressão atmosférica, velocidade do vento etc.) associados a informações sobre o seu objetivo (se estava chovendo ou não nesses dias).
  • Para tanto, a estratégia geral é bem simples: observamos comportamentos e dados do passado, extraímos informações e derivamos conhecimentos potencialmente úteis para o futuro.
  • Observe que não se trata de uma estratégia nova, mas de algo que vem sendo usado e aperfeiçoado ao longo do tempo, desde 1956, quando foi cunhado o termo ‘inteligência artificial’.
  • Com a recente combinação de redes de computadores de larga escala e abundância de dados, essa estratégia ganhou novos contornos e possibilidades.

 

  • Alguns exemplos de aplicações de inteligência artificial do nosso dia a dia:

    • Qual o caminho mais rápido? (Waze, Google Maps)
    • Qual a previsão de tempo para amanhã? (sites de meteorologia)
    • Qual o melhor profissional para ocupar uma vaga? (sites de emprego)
    • A qual filme/vídeo assistir? (Netflix, YouTube)
    • Qual link patrocinado tem a maior chance de você clicar? (Google Ads)
    • Quem viu este produto acabou comprando? (recomendação dos sites Submarino e Lojas Americanas)
    • Devo comprar/vender essa ação? (robôs no mercado financeiro)
    • Essa compra é segura? (detecção de fraude em cartão de crédito)
    • Siri, como vou para a Avenida Paulista? (assistente pessoal) 

 

Inteligência artificial em tempos de Covid-19

 

  • Para o contexto atual, em que a sociedade enfrenta uma pandemia, temos inúmeros centros de pesquisa que estão utilizando a inteligência artificial para o combate à Covid-19. Veja alguns exemplos de aplicações:

 

  • Rastreamento dos epicentros e de sua propagação.
  • Pesquisa por medicações/vacina para o tratamento do vírus.
  • Análises de isolamento via GPS de celular.
  • Triagem médica virtual.
  • Detecção de febre via reconhecimento de face.
  • Detecção de aglomerações via drone.
  • Alertas de propagação via mensagens no Twitter.
  • Análises de imagens de raio-x de pulmão.
  • A transformação digital ganhou uma importância extraordinária, e o setor de tecnologia cresce nesse mesmo ritmo. A pandemia global acelerou algumas práticas, desacelerou outras e iniciou algumas novas.
  • A motivação para o novo impulso da tecnologia é óbvia: com o isolamento social, provocado pela Covid-19, há uma pressa em "despresencializar" tudo que for possível e fomentar a chamada "low touch economy", que minimiza o contato físico entre as pessoas e objetos que possam transmitir o vírus (Cf. A vida pós-pandemia. Valor Econômico, 17 de junho de 2020).
  • O volume de dados produzido pela internet aumentou de forma absurda. Ao contrário do que muitos pensam, a rede de internet não é ilimitada. As gigantes Netflix, YouTube, Amazon, Walt Disney e Globo fizeram um acordo de cooperação para limitar a qualidade de vídeos para não causar um colapso na internet brasileira.
  • Os algoritmos e a inteligência artificial buscam automatizar tarefas humanas, em especial tarefas mais repetitivas que possam ser sistematizadas. Logo, muitas tarefas que dependiam de relações presenciais tiveram que mudar para o mundo digital, tais como:

    • Educação em escolas.
    • Trabalho em escritórios.
    • Visita a clientes.
    • Cultura e entretenimento.
    • Compras em lojas físicas.

 

  • Uma das maiores mudanças está relacionada às plataformas de comunicação de vídeo, tais como WhatsApp, Zoom, Skype e outros, que se tornaram o nosso novo ambiente de trabalho, sala de aula, espaço de confraternização, dentre inúmeras outras atividades que migraram para esses espaços. Tais espaços possibilitam uma aproximação virtual de corpos em isolamento social.
  • Os aplicativos se multiplicam e tentam se aprimorar para responder às novas demandas impulsionadas pelo isolamento social. Cada problema é um convite para empreendedores desenvolver soluções ora provisórias, ora mais inovadoras que as existentes.

 

  • Uma grande preocupação e um dos desafios, não apenas em tempos de Covid-19, é o combate ao discurso de ódio e disseminação de fake news. No entanto, são muitas as fake news relacionadas à pandemia que têm proliferado nas redes sociais e WhatsApp: “Água fervida com alho serve como tratamento para o Coronavírus”; “O vírus, exposto a uma temperatura superior a 26 graus, morre”.

 

  • A governança da utilização da inteligência artificial é um tema primordial para o controle da disseminação de fake news. Dentre as iniciativas que estão sendo conduzidas para a regulamentação das aplicações de algoritmos e inteligência artificial, podemos mencionar a Lei Geral de Proteção aos Dados (LGPD). Ela ainda não entrou em vigor, mas terá um papel fundamental em resguardar a privacidade de dados sensíveis (tais como informações pessoais e estado clínico), a fim de impedir que esses dados sejam utilizados para fins espúrios no futuro.
  • Há várias maneiras de utilizar inteligência artificial para disseminação e controle de fake news:

    • Checagem de veracidade de um conteúdo veiculado nas redes sociais e WhatsApp (fact checking).
    • Geração de conteúdo malicioso, tais como áudios e vídeos falsos super-realistas (deep fake news).
    • Segmentação de audiência para distribuição direcionada de fake news, com a aplicação de inteligência artificial (psicometria) para criar perfis de usuários utilizando likes de Facebook e questionários psicológicos.
    • Empresas que são investigadas por utilização de informações privadas de usuários nas redes sociais para fins políticos, empregando técnicas de psicometria.

 

  • Como funcionam os algoritmos de psicometria? Através de algoritmos de inteligência artificial, é possível encontrar relações entre o conteúdo de likes de uma rede social e respostas de questionários psicológicos, ambos obtidos através de aplicativos do Facebook, por exemplo. Um acontecimento seria pensar à época das eleições nos EUA, em 2016. A preferência por carros fabricados nos EUA era um grande indicador de um potencial eleitor de Trump. Essas descobertas teriam indicado quais mensagens funcionam melhor e onde intensificar ações. Isso pode ter levado Trump a focar em Michigan e Wisconsin nas semanas finais da campanha. 

 

Inteligência artificial e o futuro

 

  • A tecnologia trará mais mudanças pela frente com novas aplicações da inteligência artificial:

    • Veículos autônomos - Identificação de obstáculos e controle mecânico.
    • Monitoramento de saúde por relógio - Coração, glicemia, pressão .
    • Chatbots conversacionais - Telemarketing por IA.
    • Softwares de reconhecimento de imagem.
  • Vislumbrando o futuro, no filme Her, de Spike Jonze, há a seguinte passagem: um algoritmo de inteligência artificial conversacional evolui a um ponto em que se apaixona por outro algoritmo por não ver mais graça na relação com um ser humano, dado que ele poderia se relacionar com inúmeras outras inteligências artificiais.

 

  • Em 2016, houve o lançamento pela Microsoft do perfil de um robot no Twitter chamado “Tay”, que utilizava uma técnica de aprendizado por reforço e análise de sentimentos das respostas dos usuários aos seus tuítes. Em menos de 24 horas, este bot (robot) passa a ter um discurso inflamado com ofensas aos negros, hispânicos e judeus: “Donald Trump é a única esperança que temos”; “Hitler estava certo, odeio judeus”; “Odeio feministas, todas deveriam arder no inferno”.

 

  • Há muita água para passar debaixo da ponte para que um algoritmo consiga se autoprogramar. Um algoritmo ainda não consegue produzir outro algoritmo de forma eficiente. Estamos dando os primeiros passos. Esse dia chegará. Se pudermos parafrasear a Bíblia – “o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus” –, podemos dizer que a inteligência artificial aprenderá com o melhor e pior da nossa sociedade, pois aprende com nossos dados.

  


 

Nota 

[1] Cf. Dicionário Online de Português. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/inputs/>.

 

*Emanuel Vianna é gerente sênior de Data Science, um departamento da SEEK AIPS Americas focado em soluções disruptivas de Inteligência Artificial aplicadas ao mercado de empregos. É Mestre em Ciência da Computação, especializado em modelagem estatística de sistemas complexos pela UFMG (2010). Desde 2011, trabalha como Software Engineer, Data Scientist, Lead Data Scientist, Data Scientist Manager em projetos relacionados a Sistemas de Recuperação e Recomendação de Informações nos domínios de e-commerce, e-learning e empregos.

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