Editorial


Lúcia Grossi dos Santos

 

Temos a difícil tarefa de dar continuidade à existência de Derivas Analíticas, tão brilhantemente editada por nossa colega Yolanda Vilela como espaço de diálogo entre psicanálise e cultura. Buscamos sustentar o projeto da Diretoria da Seção Minas da Escola Brasileira de Psicanálise (2017-2018) de nos voltarmos para o espaço público, para “escutar” a rua como lugar de invenção.

Procuramos, neste número, manter a oferta de uma boa leitura, trazendo textos clássicos e contemporâneos e tentando introduzir algo novo no horizonte cultural da nossa Escola.

Este número apresenta na rubrica Mathesis o texto de Éric Laurent, que trabalha a questão da sexualidade humana a partir da atopia do objeto a, e o texto de Lucíola Freitas de Macêdo, que visita as relações de Dalí com o pensamento de Lacan acerca da paranoia, mostrando como o artista reconhecia no próprio corpo o centro de seu erotismo e de seu pensamento.

Para a rubrica Aquele texto, fomos buscar uma referência do jovem Lacan, presente na sua tese de psiquiatria Da psicose paranoica em suas relações com a personalidade. Trata-se do texto de Jules de Gaultier, “O bovarismo da humanidade”, de 1902, traduzido por Sérgio Laia, publicado na rubrica Clássicos da revista Opção Lacaniana número 12 (abril de 1995) e precedido de uma “Apresentação” de nossa colega argentina Silvia Helena Tendlarz. Ambos os textos foram gentilmente cedidos por Angelina Harari, a quem agradecemos.

Na rubrica Você disse contemporâneo, temos o texto “A cidade letra: ato de escrita do que não se escreve”, produzido coletivamente, a partir de uma atividade proposta pela Diretoria de Cartéis da Seção Minas, em setembro deste ano: “Ação Lacaniana na cidade”. Nesse espaço, reuniram-se artistas de rua e psicanalistas para pensar a dimensão da escrita na prática dos pichadores e grafiteiros.

Finalmente, na rubrica Sinopses, resenhas etc. e tal, temos um material diversificado. Cristina Marcos nos brinda com a resenha do livro de Catherine Millot, A vida com Lacan, recentemente traduzido para o português. Cristina busca em Roland Barthes a inspiração para pensar o tipo de escrita que está em jogo neste livro.

Em seguida, temos a importante entrevista com o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, realizada por nossos colegas Ana Lucia Lutterbach e Sérgio de Castro em 2016, já publicada na Correio - Revista da Escola Brasileira de Psicanálise, número 80, em abril de 2017. A iniciativa de republicar esse material tão recente partiu do Conselho das publicações da EBP-MG, que desejou ampliar o acesso de um público maior a um material absolutamente precioso para o nosso campo. Agradecemos a nossa colega Lucíola Freitas de Macêdo, editora da Correio, que viabilizou esta oportunidade.

O artista em foco neste número 7 de Derivas Analíticas é Pablo Lobato, com seu projeto RUA. O artista registra o encontro fortuito do olhar com objetos e “instalações” percebidos na rua. Esse projeto resultou na publicação de um livro de artista e uma exposição no Museu de Arte do Rio (MAR).

Trazemos ainda, nesta edição, um “Etc. e Tal” bem generoso, que tentaremos manter nos próximos números: um texto de psicanalista sobre futebol, um poema e uma personagem de história em quadrinhos.

A ideia de falar sobre futebol tem uma dupla inspiração: nossa admiração pelo grande jogador e atual cronista da Folha de S.Paulo, o Tostão, que deixa ver em suas crônicas a marca de um percurso de análise, e a proximidade da Copa do Mundo. Jeferson Machado Pinto, psicanalista e professor da UFMG, aceitou o desafio de escrever sobre futebol e nos presenteou com um texto delicioso.

Contamos com a participação da poeta e cientista Ana Caetano, que reflete sobre a anatomia do poema.

Finalmente, encontramos Palmeira, personagem de quadrinhos de Florencia Martínez, que nos encanta com seu humor bem feminino.

Agradecemos aos autores que colaboraram com este número de Derivas Analíticas: Éric Laurent, Lucíola Freitas de Macêdo, Cristina Marcos, Cristina Drummond e Márcia Bandeira (tradução e revisão), Jeferson Machado Pinto e Júlio Martins. Agradecemos igualmente aos autores do texto coletivo: Bruna Simões de Albuquerque, Elizabeth Medeiros, Lisley Braun Toniolo, Pedro Pereira Braccini e Sérgio de Mattos.

Nossa gratidão aos artistas Ana Caetano, Florencia Martínez e Pablo Lobato.

Meu muito obrigada à Anamáris Pinto e ao Marcos Lima por me acompanharem no passo a passo, à Fernanda Otoni, Diretora da EBP-MG, pela presença e entusiasmo, e à Yolanda Vilela, que me orientou no início desta aventura.

Participaram da concepção e da fabricação deste número: Anamáris Pinto, Carla Carvalho, Cristina Marcos e Lisley Braun.

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