François Regnault

 

A – Raciocinemos meu irmão. Então você não acredita na psicanálise?

B – Não, meu irmão, e não acho que, para nossa salvação, seja necessário acreditar nisso.

A – O quê? Você acha que não é verdadeira uma coisa estabelecida por todos e que o nosso séculoreverenciou?

B – Longe de tê-la como verdadeira, eu a vejo, cá entre nós, como uma das maiores loucuras entre os homens e, olhando as coisas como filósofo, não vejo farsa mais divertida, nada de mais ridículo que um homem que se atreve a querer curar um outro.

A – Por que você não aceita, meu irmão, que um homem possa curar um outro?

B – Pelo motivo, meu irmão, de que as forças que movem nossa máquina são mistérios sobre os quais, até agora, os homens não entendem nada e porque a natureza nos colocou véus demasiado espessos sobre os olhos para que possamos entender alguma coisa.

A – Então, os psicanalistas, em sua opinião, não sabem nada?

B Sim, meu irmão. Na maior parte do tempo eles sabem belas humanidades, sabem falar um belo latim, sabem nomear em grego todas as doenças, defini-las e dividi-las; mas, quando se trata de curar, não sabem absolutamente nada.

A – Mas convenhamos que desse assunto os analistas sabem mais que os outros.

B – Eles sabem isso que eu já te disse, o que não é um grande consolo. E toda a excelência de sua arte consiste num pomposo jargão, numa falaciosa tagarelice que oferece palavras como razões e promessas como efeitos.

A – Ora, meu irmão, há pessoas tão sensatas e hábeis quanto você, e vemos que na angústia, na depressão, todo mundo recorre aos analistas.

B – É uma marca da fraqueza humana, e não uma verdade da sua arte.

A – Mas é preciso que os analistas acreditem na verdade de sua arte, pois se servem dela para si mesmos.

B – É que há entre eles quem participe do engano popular, do qual tiram proveito, e outros que aproveitam sem dele participar. O seu Senhor***, por exemplo, é um homem sem a menor finura: é todo analista, da cabeça aos pés; um homem que acredita em suas regras mais do que em todas as demonstrações matemáticas e acharia um crime querer examiná-las; que não vê nada de obscuro na análise, nada de duvidoso, nada de difícil; e com uma impetuosidade de prevenção, uma confiança cega, uma total brutalidade de senso comum e de racionalidade, oferece, do começo até o fim, sessões e tratamentos, e não vacila nunca…

A – Isso é porque você tem um pé atrás com ele. Mas, enfim, vamos aos fatos. Que fazer, então, quando se está angustiado, deprimido?

B – Nada, meu irmão.

A – Nada?

B – Nada. É só ficar em repouso. A natureza, por si mesma, quando a deixamos trabalhar, se retira delicadamente da desordem em que caiu. É a nossa inquietude que atrapalha tudo e quase todos os homens morrem de seus remédios, e não de suas doenças.

A – Mas você há de convir, meu irmão, que se pode auxiliar a natureza com certas coisas.

B – Santo Deus, meu irmão! Essas são apenas ideias que gostamos de alimentar. Desde sempre surgiram entre os homens belas fantasias nas quais acabamos por acreditar, porque elas nos adulam, e gostaríamos que fossem verdadeiras. Quando um analista fala de ajudar, socorrer, aliviar, arrancar da natureza o que a aflige e de lhe dar o que lhe falta, de restabelecer e de restituir-lhe o pleno gozo de suas funções, […], está falando justamente do romance da psicanálise. Mas quando se volta à verdade e à experiência, não se encontra nada disso, e é tudo como nesses belos sonhos que, ao despertar, nos deixam apenas o desprazer de lhes ter dado crédito.

A – Quer dizer que toda a ciência do mundo está encerrada na sua cabeça, e você pretende saber mais que todos os grandes analistas do nosso século?

B – Nos discursos e nas coisas, esses grandes analistas são pessoas de dois tipos. Escute-os falar: são as pessoas mais hábeis do mundo; observe-os em sua prática: são os mais ignorantes dos homens.

A – Epa! Pelo que vejo você é um grande doutor, e eu gostaria que aqui estivesse algum desses senhores, para revidar seus raciocínios e te fazer calar.

B – Eu, meu irmão, não me atribuo de forma alguma a tarefa de combater a análise; cada um que corra o risco de acreditar no que bem quiser. O que digo é só entre nós; eu gostaria de poder tirar você do erro em que está e, para diverti-lo, levá-lo para ver algumas das comédias de Molière.*

Ficaríamos surpresos hoje ao escutar tais afirmações em um palco. Não que a psicanálise não possa ser objeto de zombaria – o “teatro de boulevard” se encarrega disso com frequência –, mas pelo tom de verdade dessa transposição.[i]

Nesse diálogo célebre entre o doente imaginário (Argan, aqui A) e seu cunhado (Béralde, aqui B), no meio dessa estranha Comédia de música e ballet, colocamos “análise” no lugar de “medicina”, “analista” no lugar de “médico” e indicamos as outras modificações em itálico. Por ocasião de uma representação da peça dirigida por Jean-Marie Villégier, no teatro do Châtelet, me surpreendi com a réplica de Béralde a Argan: “Não conheço nada mais ridículo do que um homem que se atreve a querer curar um outro”.

Poderíamos, inspirando-nos em Lacan, querer, apressadamente, dar razão a Molière: é justamente porque nenhum homem pode curar outro homem que a psicanálise foi inventada, porque o sujeito, ao entrar em análise, é menos um homem que um sujeito, e porque o analista, sujeito suposto saber, é, no fim da aventura, menos um homem que um objeto, ou seja, porque não há no tratamento nenhuma relação dehomem a homem. Tanto mais que Lacan situa o surgimento desse sujeito, tratado como tal, a partir de Descartes, em quem Molière pôde se inspirar. O próprio Descartes, após ter imaginado que a nova ciência nos tornaria “mestres e possuidores da natureza”, parecia aderir, no fim de sua vida, muito mais à ideia do “médico de si mesmo”, como estava então na moda,[i] que à ideia do médico de outro.

Entretanto, por mais cartesiano que o suponhamos, Molière fala aqui somente da medicina, que a seus olhos não tem nenhum caráter científico. A prova disso é que ele faz com que Thomas Diafoirus, jovem médico, pretendente da filha de Argan, sustente um discurso deliberadamente grotesco contra os “circulacionistas” e deixa entender, assim, que ele adere a uma das raras certezas cartesianas, senão da medicina, pelo menos da ciência física aplicada ao corpo: a circulação do sangue, descoberta por Harvey cinquenta e quatro anos mais cedo.

Por que, então, colocar a psicanálise, desconhecida de Molière, no lugar da medicina? Porque se trata de umdoente imaginário, que uma catarse lúdica cura ou ao menos estabiliza, quando de sua entronização como médico.

Transposto para a psicanálise, o discurso de Béralde guarda toda a sua coerência filosófica. Se dermos crédito, nesse sentido, a Georges Couton, disporíamos de outra versão da mesma cena publicada em 1675, ao passo que o texto normalmente publicado é o da edição póstuma, evidentemente, de 1682, e que corresponde a uma redação remanejada de algumas cenas da peça. Ora, a edição de 1675 parece ser conforme a uma primeira redação – rascunho de Molière? Texto abandonado por ele? –, enquanto a de 1682, que tem o aval de La Grange, sucessor de Molière na liderança de sua trupe, “completa, introduz nuances, transpõe” a primeira redação. Trata-se, com efeito, de um pouco mais que de simples variantes. De uma cena à outra, encontramos as mesmas ideias numa ordem diferente, com formulações diferentes. São muito mais modificações de “roteiro” no interior de uma mesma cena, que modificações de pensamento. Tem-se a impressão de que Molière reescreve sua cena para torná-la mais eficaz e encontra, de repente, uma nova inspiração, um novo movimento da alma. Como ele diz do pintor Pierre Mignard, ele tem “a mão pronta a seguir uma bela chama que a guie”.[ii] Comparemos somente as duas versões de duas réplicas de Béralde:

1675 (versão n.º 1, rascunho?)

Béralde: Não, eu vos digo, e não vejo farsa mais divertida: nada no mundo de mais impertinente que um homem que se atreve a querer curar um outro.

Argan: Eh! Por que, meu irmão, você não aceita que um homem possa curar um outro ?

Béralde: Porque as forças de nossa máquina são mistérios até aqui desconhecidos, que até agora os homens não entenderam, e cujo conhecimento o autor de todas as coisas guardou para si.

1682 (versão n.º 2)

Béralde: Longe de tê-la como verdadeira, eu a vejo, cá entre nós, como uma das maiores loucuras dos homens e, olhando as coisas como filósofo, não vejo farsa mais divertida, nada de mais ridículo que um homem que se atreve a querer curar um outro.

Argan: Por que, meu irmão, você não aceita que um homem possa curar um outro?

Béralde: Pelo motivo, meu irmão de que as forças que movem nossa máquina são mistérios sobre os quais, até agora, os homens não entendem nada e porque a natureza nos colocou véus demasiado espessos sobre os olhos para que possamos entender alguma coisa.

Os adeptos do gassendismo de Molière poderiam creditar essas modificações na conta de suas teses: acréscimo da palavra “filósofo”, substituição de “autor de todas as coisas” por “natureza”. Se as modificações fossem dessa ordem, Molière teria acentuado esse gassendismo. Se, ao contrário, a versão publicada em 1682 tivesse sido escrita antes da versão de 1675, se ele, portanto, atenuou suas ideias, o contraste permanece pelo menos no fato de que a “brusca altivez” do estilo continua a caracterizar a versão forte: “como filósofo”, “uma das maiores loucuras”, e, “a natureza”, designação lucreciana evidentemente oposta à versão religiosa de “o autor de todas as coisas”. Ele não poderia ter dito “Deus”, mesmo que tivesse querido, e a expressão “o Céu”, presente em Tartuffe e em Dom Juan, teria sido aqui inadequada.

São essas ideias que nos autorizam esta ficção gratuita: o que Molière teria pensado da psicanálise? Questão irreal, mas não absurda. Já se assinalou o gênio clínico de Molière, e certos comentadores (Francine Mallet faz alusão a isso em sua obra sobre Molière) acreditaram demonstrar que ele descrevia perfeitamente um caso de “neurastênico gastrointestinal” na pessoa de Argan. De todo modo, não se poderia aplicar a Argan o que Lacan diz de Hamlet: que “ele não é um caso clínico”, pois, precisamente, ele o é. Resta saber qual, de um ponto de vista analítico, a respeito de um personagem que tem traços obsessivos, quando ele faz a conta de seus medicamentos; histéricos, em seus ímpetos repentinos e suas somatizações constantes; psicóticos, enfim, pela hipocondria, quando ele se crê alvo do riso de todos e quando um ritual burlesco o acalma ou o estabiliza de modo quase alucinatório.

O que nos interessa aqui é, sobretudo, a vertente ética da questão. De início, a ideia muito pouco cartesiana de que a natureza está velada e de que não podemos nos tornar seus senhores. Considerou-se, com efeito, que “as forças que movem nossa máquina são mistérios”, enquanto Descartes as descreve nos mínimos detalhes e até demais, nos dizeres de Pascal. Assim, diz Molière, que fala evidentemente através de Béralde: “A natureza nos colocou véus demasiado espessos sobre os olhos para que possamos entender alguma coisa disso”. Sem dúvida, não se trata aqui do inconsciente, exceto pelo fato de que nossa curiosidade médica é atribuída tanto às nossas paixões secretas quanto à nossa ignorância manifesta. A paixão de ignorar, sobretudo. A medicina é, portanto, mais uma loucura que um engano. “É um dos grandes enganos dos homens”, diz Dom Juan a Sganarelle, mas é também uma farsa, mais uma hipocrisia que uma ilusão. Como se uma barreira de recalque fizesse limite entre aquilo em que não se pode acreditar e a pretensão de conhecê-lo. A que se deve, então, essa curiosidade malsã, que não é aquela, racional, de Dom Juan diante dos espectros? Ao que Molière chama exatamente de “nossa inquietude” e que parece muito com o que Freud chamará de angústia, de nervosismo comum, nosso mal-estar. “É nossa impaciência que atrapalha tudo, e quase todos os homens morrem de seus remédios, e não de suas doenças.” Tese estranha, próxima ainda da dialética do recalque, pois, como diz Lacan: “O recalque (= doença) e o retorno do recalcado (= remédio) são a mesma coisa”. Essa ideia é

vizinha da versão ousada que ele dá de um verso sutil de Antígona de Sófocles: “[…] a fuga nas doenças impossíveis”.[1] Molière supõe que a natureza só suporta a morte ao termo normal da vida e que ela, por si só, curaria as doenças, sem a invenção dos remédios originários da fraqueza e da engenhosidade humanas, de um frenesi por se destruir, de uma pulsão de morte. Os remédios são como sintomas, mas, então, essa pulsão não está na natureza (o “recalque originário” de Freud), ela está na inquietude humana (solução de Epicuro e de Lucrécio).

A discussão entre Argan e Béralde culmina numa estranha solução: para se livrar de seus enganos, deve-se ir ao teatro. E, mais precisamente, assistir às comédias de Molière, analista de todos nós, aquele que agencia ao mesmo tempo todo o discurso, a maquinaria e o divertimento final.

Molière se mostra, portanto, ao mesmo tempo, como sujeito da peça e como objeto do sacrifício: “Eu lhe direi [a Molière]: “Morra, morra!”, diz Argan. Ele é a vítima da Faculdade e o exemplo da salvação, ele já sofre demais de seu mal para agravá-lo querendo curá-lo: “Quanto a ele, diz que só tem forças para carregar seu próprio mal”. Ele é, ele próprio, o analista, e o paciente, a poltrona é seu divã! E, aliás, não é o nosso dinheiro que ele contava no começo da peça? “Um clisterzinho insinuante, preparativo e emoliente…, uma boa medicina purgativa e corroborativa.”

O topos do “teatro dentro do teatro” toma aqui a forma extremamente singular de uma aparição do autor em sua peça, oferecendo-se, não sem exibicionismo, a essa estranha apresentação de paciente. Ele nos demonstra experimentalmente que é o paciente dos males da alma (o “analisante”) quem faz todo o trabalho, ao mesmo tempo que ele dirige o tratamento a partir de sua poltrona, de onde as luzes da ribalta deveriam impedi-lo de ver essa multidão chegando, e que somos nós: “Imagine que os princípios de sua vida estão em você mesmo, diz Béralde a Argan, e que a fúria do senhor Purgon é capaz de te fazer morrer, tanto quanto seus remédios de te fazer viver”.

A partir daí, a estranha ficção que se segue a essa cena e que é um sucesso, ou seja, a criada Toinette disfarçada de médico, não é ela um perfeito simulacro de um tratamento analítico, quando ela leva Argan, em duas sessões curtas, a encontrar o que Freud chamava “o rochedo da castração”, através dos remédios tanto simbólicos quanto bizarros, que ela lhe propõe? “Se eu fosse o senhor, mandava cortar esse braço imediatamente. […] O senhor tem também um olho direito que, no seu lugar, eu furaria.” “Que bela operação, conclui Argan, para me deixar caolho e maneta!” Como em muitas análises, a saída para Argan será se tornar, por sua vez, “analista”, mas, no carnaval e para rir; tornar-se uma espécie de Molière, médico de si próprio e do mundo como ele anda. O outro não existe e não há remédios. Qual é a senha da cerimônia “diaforesca” [diafoirique][2], da passagem do estado de paciente ao de médico?

Clysterium donare,

Postea seignare

Ensuitta purgare,

Como não ver aí uma alusão à teoria da purgação das paixões própria ao teatro, que havia ocupado todo o século? O instante do clister, o tempo para sangrar, o momento de purgar! E quanto àquele que se torna doutor, pois bem, que ele viva:

Vivat, vivat, vivat, vivat, cent fois vivat

Novus Doctor…

Que ele pratique uma ética da palavra, não dos remédios:

…Qui tam bene parlat!

Mille, Mille annis et manget et bibat.

Que ele saiba lidar com seu desejo, isto é, com suas pulsões. As pulsões sexuais, aqui reduzidas às pulsões orais:

…et manget et bibat

e à pulsão de morte:

Et seignet et tuat![3]

Tradução: Maria Bernadete de Carvalho

Revisão: Márcia Bandeira

Este texto foi publicado originalmente no livro La doctrine inouïe. Dix leçons sur le théâtre classique français. Paris: Hatier, 1996. Derivas Analíticas agradece a François Regnault pela amável autorização de tradução e publicação deste artigo.

François Regnault

Filósofo, dramaturgo e tradutor francês. A convite de Michel Foucault, ensinou no Departamento de Filosofia da Universidade de Paris 8, onde permaneceu até 1974. Convidado por Lacan, Regnault integrou o Departamento de Psicanálise da mesma universidade. Publicou, notadamente, Dieu est inconscient e Em torno do vazio: a arte à luz da psicanálise.


Notas

* A presente tradução se baseia na tradução do texto de Molière feita por de Leonardo S. F. Gonçalves. Cf. MOLIÈRE, J.-B. P. O doente imaginário. 2. ed. revista. Belo Horizonte: Crisálida, 2008. (N.T.).

[1] Essa transposição e as considerações que se seguem são uma versão um pouco modificada de um artigo publicado em Confluencias, ano V, n. 2, 1991, p. 25-28.

[1] Ver Le Médecin de soi-même, de E. Aziza-Shuster, Paris: PUF, 1972 (Coll. Galien). Leibniz faz alusão a esse célebre tema do século XVII numa carta de 23 abr. 1701: “O instinto natural que temos de nós mesmos, de que O médico de si mesmo se vangloria num libreto em francês, nós o perdemos em boa parte de tanto viver artificialmente”.

[1] MOLIÈRE, La Gloire du Val-de-Grâce, v. 267, Oeuvres complètes, Bibliothèque de la Pléiade», t. 2, p. 1186. Poderíamos aplicar a essas reescrituras vivazes das cenas por parte de Molière à comparação de Boileau: “Nesse poema sobre a pintura, ele trabalhou como os pintores a óleo que retomam várias vezes o pincel para retocar e corrigir suas obras, enquanto que em suas comédias, onde eram necessárias muita ação e movimentos, ele preferia a brusca altivez do afresco à preguiça do óleo”. (Ibidem, p. 1527).

[1] LACAN, J. O seminário, livro 7: a ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1988. p. 333. “Após ter dito que, em todo caso, há algo que o homem não resolveu, e é a morte, o Coro [de Antígona, de Sófocles, sobre essa maravilha que é o homem] diz que ele imaginou um truque absolutamente formidável, ou seja, literalmente, a fuga para as doenças impossíveis. Não há meio de dar outro sentido a isso senão aquele que lhe estou dando. As traduções tentam dizer habitualmente que com as doenças ele ainda se ajeita, mas não é nada disso. Ele ainda não chegou à morte, mas encontra truques formidáveis, doenças que ele construiu.” (Uma edição inglesa erudita admite, aliás, a interpretação de Lacan.) Vê-se, assim, que um diálogo se instaura entre o Coro de Sófocles e os médicos de Molière!

[1] Adjetivação do nome “Diafoirus”, personagem de O doente imaginário. (N. T.).

[1] Tradução do latim de Molière: “Dar um clister, / Depois uma sangria, / Em seguida uma purgação, / Viva, viva, viva, viva, que cem vezes viva / o Novo Doutor / que fala tão bem! / Que ele coma e que ele beba milhares de anos. / Que ele coma e que ele beba, / Que ele sangre e que ele mate!”.

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